30 de set. de 2025

(i)

Os meninos gritam ao longe, futebol.

Sera que são meninos?

Que sim.

 

(ii)

Eu poderia ser um fantasma se quisesse?

Não.

Se nos matamos, não sei o que passa.

Mas se somos assassinados, aí sim.

Um baixa o outro sobe.

 

(iii)

O som do gelo, do gim, do gesto que me deixou de lembrança.

É bom lembrar dos dedos juntos, dobrados, movendo-se para cima. Significa ação.

 

Será que um dia me esqueço?

E de apertar o lábio de baixo com os dentes de cima?

Como quem diz pordios.

 

Eu fico indo e voltando.

Minha cabeça e meu coração.

Brasil, Argentina, Brasil, Argentina, Brasil.

 

(iv)

Os taxis sempre peleando. Os transeuntes ofendendo.

As caras carrancudas das mulheres.

As saias curtas das meninas.

Os homens chiques como nunca vi homens chiques.

 

A enormidade de lojas de roupas masculinas.

Homens com homens,

Mulheres com mulheres

A vaidade que não combina com a depressão.

A opressão que não combina com a liberdade.

Daqui da varanda eu vejo o colégio

E essa arquitetura que me mata

 

O belo e o feio parados de mãos dadas esperando um clique que jamais virá.

 

Vocês não combinam.

E nem o céu orna.

 

Daqui eu ouço também os ruídos todos.

A serra que corta o piso, o carro que passa, a moto, as crianças gritam eeee!, os bombeiros. E às 6h da manhã toca a gravação de um sino na Igreja da Saúde.

 

O sino fake é tão São Paulo...

28 de set. de 2025

 Meu coração era tripartido: o de antes, o do corpo, o da mente.

O de antes sempre lá, como pano do fundo. Podia até nem partir um coração que de tanto que foi, já se entendia menor.

O do corpo, que acalmava – mas só se presente. E quase nunca estava. Não de alma.

Já o de mente, tinha a (c)alma toda. E o desejo de fusão de tudo, eu, você, o rato.

 

Inesquecível pra mim. Até que esqueci. Deles.

Lembrei. De mim.

 

Foi sentir as micropartículas de coração se juntando.

Estilo homem-areia. Sandman. Happywoman.

E (me) uno.

(A)o meu coração.

 

A paz voltou a reinar.

 Te ver de perto foi a melhor coisa que me aconteceu.

 

Ver a perfeição da barba, das cores, da textura. Sua barba macia. A sua barba clara.

Te vi de bem perto. E seus pelos, que saem pela blusa, por cima dos olhos, orelhas, que você tira e eles voltam a subir.

São heras.

Quase 20 anos.

Eu não resisti e minha boca foi pra sua.

Mesmo minha boca-proibida. Te mordi. Queria te arrancar algo. Ter-te meu, ali.

 

No carro, sua mão esquerda me buscou atrás e me encontrou. Sempre. (E eu lá sei fazer diferente?)

E você a segurou. Como se não fosse me soltar nunca mais.

 

De novo eu cri. E você me soltou. 

Mas sem grilos dessa vez.

 Meu grande amor-não-amor:

Te propus amizade também.

Você me jogou no seu rol de amigos-não-amigos.

 

Bem pra mim, que ultimamente sou toda desejo recém-nascido-sincero de buscar relações sinceras...

 

Como consegui sobreviver tanto tempo achando que vivia?

Rodeada de amigos-não-amigos, familia-não-familia, relacionamentos-não-relacionamentos...

 

E meu trabalho, que era sincero, eu sabotei. Pra que se tornasse algo-não-algo também.

Pra ornar.

 

Mas voltei.

 

Estou me inteirando.

E digo não também para você.

 

Assim não.

Obrigada pelo possível do que foi.

 

(retorna pra mim a ideia do que poderia ter sido e não foi – que sempre foi minha mesmo ;)

Para mim. 


Se eu buscava pelo em ovo

Se analisava tudo usando el diário de lunes

Isso provavelmente era sintoma, não eu.

 

Te trouxe o novo

Você negou.

E eu te deixo.

 

Te deixei com os jornais velhos

Sem lágrimas nos olhos.

 

Caminho por onde nunca andei

Mais acompanhada do que sempre.

 

Afasto os corvos.

 

De onde estou é que vem a emoção que vejo.