6 de ago. de 2006

Quando a chuva cai nessa inclinação (45 graus, acho), eu desejo outras felicidades.
Quando o frio faz com que os passantes escondam seus braços sobre a lã, meus quereres mudam.
Num dia como o de hoje, queria uma vida pré-fabricada.
Ir ao estabelecimento comercial e comprar um quilo de soluções para o vazio. Um baú de respostas prontas e certeiras. Em outras palavras: o gabarito.
Às quase 23 horas do último dia do 7º mês do ano, quero ser fácil o suficiente para comprar sorrisos meus com reais.
Bolsa, sapato, pêras e a felicidade. Mas, ei, a alface vai por cima, pra não amassar as folhas.

Lembro os passos descalços que dei, infinitos. Com os quais mudei, calei, não-errei. Lembro. Sonho. Vivo. Lembro de sonho vivo.
Dor atual que conforta hoje, como penas de ganso. Balanço, temo, estranho.

À pouco, com a ajuda do algodão, retirei o escuro das mãos, sendo outra, clara, branca, sem cor. Só de pé, ainda bem, conforta-me.

Quando foi que mudou, o tempo, tudo. Como foi e, por falar nisso, como vai?

Não sonho mais, hoje não. Ontem sim. Penas de ganso. Conforto. Apenas lutei para não me enganar. Fatos importam, nuances servem para a poesia, o quadro, a luz.

Pra que jogar fora tanta coisa?
O lugar onde eu deveria estar não existe e fui eu mesma que respondi.
E tenho uma bota para os dias de chuva inclinadas. Mas não gosto dela desde o primeiro dia. Era verão e eu, pré-fabricada, não entendia nada.

Quem já me surpreendeu um dia, me cansou. Eu durmo. Talvez sonhe, talvez não.
Sem saber das razões, legitimações, pães, nãos, uma pena.
Broto de fio. Novelo de uma eu casula.
Quero mais. Uma vida só é pouco.
Sou minha.

2 comentários:

grub disse...

Nossa, serio, foi um dos textos que mais gostei de tudo que li em um ano. Ta lindo. Belas imagens, cadencai, ritmo e deixando essa pataquada de analise tecnica de lado, toca. E encanta.

Marcela Barbosa disse...

U a u .
:o (boc´aberta)

Obrigada.
:)
Um beijo.