29 de mai. de 2006

Artinhas feitas de chuchu. O chuchu tem pequenos pêlinhos ao seu redor, parece pneu novo. Pêlos verdinhos e espinhentos. Aí se espeta mais quatro palitos de dente, de dois em dois, e têm-se as patas de um cavalo de chuchu ou de uma égua, pois, em se tratando de chuchu não se pode falar que o verde é de menino e o rosa de mulher. Não existem esses legumes em rosa. Aliás nem sei se o chuchu é um legume porque vivo num mundo em que o tomate é uma fruta. Tsc tsc tsc. E as pessoinhas, feitas de batata. Com palitos também e sem pescoço. As gentes sem pescoço são como as de batata. E batata é um legume, mas que tem amido (essa eu sempre soube). Desde o tempo em que eu e o meu irmão do meio ficávamos fazendo experiência com o brinquedo de química e jogávamos o liquidinho na batata e as coisas ficavam azuis. Um bocado estranho.
Mas não tanto como o outro experimento da época. O nome era “sangue do diabo” e era um líquido também, só que rosa muito choque, que você jogava na blusa branca da sua prima mais velha que já tinha peitos (e muitos, aliás) e ela ficava uma arara. Até descobrir que aquilo ali não manchava e, muito pelo contrário, sumia com o tempo. Mas já tinha dado tempo suficiente pra você (ou ele) terem apanhado muito. Sim. Mas aqueles tapas sem dor, porque não existiram.
E você lembra que tem uma tia distante que quando era recém-casada perdeu um filho ainda na barriga, mas já com idade pra se dar nome. Essas coisas. E histórias como essa te marcaram por uma vida, literalmente, que te faz sempre gostar dessas pessoas, por piores que sejam, desde que tenham algo de aborto, como chamam. E eu me lembro de como eu me sentia quando vinham com esses assuntos, antes diziam que havia pé descalço na sala, mas aí eu olhava pro meu sapatinho vermelho de boneca e pensava nas minhas. Bonecas. E em como seria se um dia eu ficasse muito grudada nelas e elas sumissem. Seria algo assim, como um fim. Mas a cara da minha mãe falando da tia longe era tão pior do que perder bonecas, que me vi obrigada a rever os meus conceitos sobre sapatos, tias e sobre sangue.
Foi então que lembrei-me do chuchu, esqueci do legume, peguei os palitos e entrei na boemia jogando palitinho. Meu tio, um outro aí, queria ter um bar ou teve, não sei, e sempre me disseram que palitinho era coisa de submundo. Então eu virei campeã de palitinho, sabia blefar e tudo, mas o reflexo disso ficou em mim, guardado em alguma gavetinha de criado mudo, porque eu desaprendi a jogar, e hoje, nem truco jogo mais, e não sei mais blefar.
É isso, por enquanto.

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