6 de ago. de 2006

As pernas doem. Para onde foi, andou?
Mas a dor imobiliza. Estática no silêncio da casa ao lado, muros altos, novos.
Desde o dia em que o vizinho as deixou.
Ela, sem móveis, tomba. Mas o que tão de histórico pode ter?
Um violão encostado: histórico.
Um coração (só hoje) quebrado: histórico.
Um não-saber-nada homérico. Históico. Pré-.
A senhora cutuca pra dizer que chegou. Ela olha pra cima. Será que um dia chega aos cem, pensa. Se sim, certamente cutucará.
E a senhora, será que sente o peso da existência e tem crises? Acredita que sim, certamente, e das piores, daquelas de saber que pode ser o último aniversário do vizinho com ela ali.

A casa vazia, muros longos, cabelos curtos, essa dor nas pernas, essa mente alta, de mente, desassossego de alma.

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